Escrevo agora com uma sinfonia de gritos ao fundo, acho que
assim me inspiro melhor, pois o que vou dizer agora creio que poucas têm a
coragem de dizer: eu quero tacar pela janela!
Sim, aquele momento
em que você está querendo se descontrair bater um papo com os amigos distantes
ver vídeos engraçados na internet após 5 horas ininterruptas de galinha pintadinha
a última coisa que você deseja ouvir é popopó ou o choro do seu filho
implorando por mais popopó. Agora mesmo (após
3 horas de galinha pintadinha) a Julia repete incessantemente que quer usar o
notebook “só um pouquinho”, e a cada frase repetida meu vulcão interior fica
prestes a explodir, não é por que não a amo, mas cá entre nós, ninguém aguenta
as lágrimas de crocodilo de um serzinho egoísta que ainda está aprendendo que o
mundo não gira ao seu redor, é difícil, eu entendo, mas não é motivo pra eu não
me irritar.
Eles querem colo nos momentos mais inoportunos, choram na frente das pessoas as quais você reza todos os dias pra que não o façam, não comem a comida que você demorou horas pra fazer, choram mais e gritam, eles gritam muito e correm também, daí quem grita é você.
Eles querem colo nos momentos mais inoportunos, choram na frente das pessoas as quais você reza todos os dias pra que não o façam, não comem a comida que você demorou horas pra fazer, choram mais e gritam, eles gritam muito e correm também, daí quem grita é você.
Uma coisa que devia ser obrigatório durante a gestação eram
os cursos de paciência, por que todo mundo diz que “com os filhos vem a
paciência”, mas não vem não, eu tenho menos paciência que antes e parece que a
cada dia ela está se esgotando mais. Há algumas semanas me peguei de braços abertos,
girando e olhando pro céu perguntando alto pra Deus onde eu encontrava a
obediência da Julia e a minha paciência enquanto a Julia me olhava com os olhos
arregalados, parada sem emitir nenhum som, nesse momento ela deve ter pensado “exagerei,
é melhor parar, ela vai querer que eu durma”. Ela tem sorte de ser linda,fofa e
de a ocitocina ter sido descarregada no parto, é isso que a salva dos meus
momentos em que nem eu tenho vontade de estar perto de mim.
Eu confesso que sinto falta dos meus momentos de sono sem me
preocupar com um despertador imprevisível me mandando acordar, é, por que eles
não pedem eles mandam e não há sono no mundo que faça você voltar a dormir
simplesmente por que você tem um ser de pouco menos de um metro prestes a
quebrar tudo dentro de casa se por acaso você se der ao luxo de voltar a
dormir. Outra coisa que sinto falta é da
minha liberdade, a gente pensa que é normal uma criança que está sempre
correndo e querendo brincar com tudo que se mexe ou não, mas isso irrita e
irrita demais. Uma palavra que eu torço todos os dias pra não ouvir é “mamá”,
não tem nada mais insuportável que uma criança repetindo a palavra “mamá” cinco
vezes então você fala “vou fazer” e ela repete mais umas sete ou oito vezes,
talvez ela tenha motivo para continuar repetindo por que sabe que se não fizer
isso eu ainda vou demorar pra sair de onde estou e ir fazer mamá pra ela, por
que eu não quero ter que lavar mamadeira ou limpar o pó do leite que caiu sobre
a pia. Eu também não quero ouvir a galinha pintadinha, coloque moda de viola
pra eu ouvir, mas por favor não me deixem escutar a galinha pintadinha mais, me
levem para uma ilha deserta mas não em um parque com o rangido repetitivo das
balanças e crianças descalças sujas de areia correndo e ameaçando trombar de
frente com a minha filha arriscando um dos dois saírem com a testa rachada
precisando levar dois ou três pontos.
Existe sim o lado bom da maternidade mas isso vou deixar pra
outro dia pois a única coisa que essas declarações lindas sobre a maternidade
servem é para me fazer sentir odiável e culpada pela Julia ter eu como mãe. E é
algo que ninguém te conta sobre a maternidade é é uma coisa que você vai sentir praticamente 24 horas do seu dia: culpa,
e isso só vai fazer você querer ser uma mãe melhor ainda o que será frustrado e
você sentirá mais culpa ainda.